A Residência para Coletivos acontece desde 2015 e visa fortalecer práticas coletivas, artísticas ou não, que pertençam ao campo ampliado da cultura. Tais práticas encontram-se muitas vezes fora do circuito de editais e premiações devido ao seu modelo de funcionamento. Em vista disso, como vem fazendo a cada ano, a Casa do Povo abre uma convocatória com o objetivo de incentivar a continuidade e o desenvolvimento de iniciativas de caráter coletivo.
Convidamos grupos de estudo, movimentos, companhias, conselhos, associações, ou qualquer forma de agenciamento coletivo que atue em diferentes áreas (social, urbanística, artística, alimentícia, científica, etc.) a enviar propostas para a Casa do Povo.
Em 2018 reforçamos a proposta da chamada: faça o que você já faz. O objetivo é que os coletivos apresentem brevemente sua atual atividade ao invés de criar um projeto que busque se enquadrar nos moldes de um tema direcionado ou de um partido curatorial. Com isso, procuramos incentivar práticas coletivas que venham atuando ativamente, independente de apoios institucionais ou governamentais.
Não deixe de pesquisar a respeito dos coletivos que foram contemplados anteriormente para entender de forma mais concreta o tipo de iniciativa que essa chamada vem apoiando.
As propostas não devem necessariamente se restringir ao espaço da Casa do Povo, mas podem ocorrer em outros locais pertinentes à iniciativa. Ainda assim, parte do processo deve ser desenvolvido em São Paulo, em diálogo com a Casa do Povo.
Duas propostas serão selecionadas. O período de residência deve se cumprir entre 30 e 60 dias.
Aviso importante
Esta chamada incentiva a transdisciplinaridade. Consequentemente, ela não está focada exclusivamente em práticas artísticas específicas, mas propõe o diálogo com práticas sociais, urbanísticas, artísticas, alimentícias, científicas, etc.
>> RESULTADO DA CHAMADA ABERTA <<
Agradecemos a todes pela participação na chamada aberta da Residência para Coletivos, que acontece desde 2015 na Casa do Povo. Recebemos 137 propostas, entre as quais tivemos que selecionar apenas duas. No entanto, a qualidade das propostas e a diversidade de práticas coletivas nos permitiu conhecer grupos com os quais esperamos trabalhar em próximas ocasiões.
Coletivos selecionados
Sí, Yo Puedo!
O Sí, Yo Puedo! promove a integração de migrantes em São Paulo, a partir de projetos nas áreas de saúde, educação, profissionalização, cultura, reinserção escolar e encaminhamento para a busca do trabalho formal. Realizam atividades como aulas de português, rodas de leitura na praça, mesas de conversa conjuntamente com teóricos e comunidade migrante, oficinas de dança, etc.
O coletivo luta pelo pleno direito a migração, e acredita na educação como principal ferramenta para a construção de uma sociedade efetivamente inclusiva e multicultural.
A proposta propõe um diálogo mais próximo entre a Casa do Povo e as comunidades migrantes do bairro do Bom Retiro, de modo que se produza uma incidência recíproca entre esses territórios: que a Casa extrapole seu espaço e saia de encontro à vida do bairro e que o bairro possa estar cada vez mais dentro da vida da Casa.
Parteironas Bruxonas
Formada por estudantes do curso de Obstetrícia da EACH-USP, a Coletiva Parteironas Bruxonas questiona o modelo biomédico de saúde que é reproduzido atualmente, pautado na hipermedicalização, institucionalização da saúde, mercantilização e intervenção nos corpos das mulheres.
A Coletiva desenvolve oficinas e rodas de conversa para promover o autocuidado das mulheres em sua integralidade e complexidade, colocando-as no centro do processo do cuidado.
A proposta para a residência é a criação do XXT Lab: laboratório vivo em saúde. Inspirado nas premissas da autonomia, cuidados naturais, DIY (do it yourself) e cultura hacker, o XXT Lab pretende ser um espaço de autoconhecimento, investigação e experimentação com foco na saúde das mulheres.
Pela primeira vez um coletivo ligado diretamente à área da saúde é contemplado pela Residência para Coletivos da Casa do Povo. Mais do que isso, trata-se de um coletivo que propõe uma reflexão crítica sobre as noções de saúde e doença, enfatizando a descolonização e a desalienação do corpo. Substituem a noção de prestação de serviço na área da saúde por uma ideia de partilha do saber, criando redes de proteção e espaços de escuta voltados à mulher.
Ainda foram destacadas as seguintes propostas:
Suplentes
Maravilixo, Clube da Caçamba e LAB Clarice Espectro, que se destacaram por serem propostas que engajam o processo artístico com outras áreas do conhecimento: ciência, na versão DIY (Maravilixo), arquitetura e urbanismo (Clube da Caçamba) e tradução/transcrição e rádio (LAB Clarice Espectro).
Menção honrosa
O Movimento Cultural Ermelino Matarazzo recebeu menção honrosa pela proposta de uma residência de mão-dupla, articulando suas práticas às da Casa do Povo, como forma de trocar saberes e construir redes de cuidado.
Comitê de seleção
A seleção foi feita por membros da equipe da Casa do Povo (Marilia Loureiro e Ana Druwe), um integrante do coletivo Ateliê Vivo (Fábio Malheiros), que habita a Casa do Povo, e pela curadora e pesquisadora carioca Pollyana Quintella.
Foram levados em conta os seguintes critérios:
1/ coletivos e grupos atuantes no contexto de suas propostas, levando à cabo o mote da chamada aberta “Faça o que você já faz”
2/ mais foco nos processos de pesquisa do que nos produtos finais (e espelhamento desse critério no orçamento)
3/ relevância das questões levantadas
4/ interesse no contexto e nas maneiras de habitá-lo
5/ propostas que não se enquadram na maior parte de outros equipamentos de cultura
6/ processos que não separam sujeito e objeto do conhecimento, mas que trabalham a partir de perspectivas mais permeáveis e relações menos unilaterais.
Sobre as edições anteriores
Coletivos selecionados pela Residência para Coletivos
• Radio Lixo (2015)
• Mexa (2016)
• Cozinha Kombinada (2016)
• Cursinho Popular Transformação (2017)
• Data_labe (2017)