O que acontece quando arquivos de resistência se encontram?
Se o arquivo da Casa do Povo é marcado pela sobrevivência da cultura judaica pós-Shoah, a biblioteca negra de Maurinete Lima é um marco na transmissão da diáspora africana em um contexto de 500 anos de escravização e apagamento. Essas histórias radicalmeente diferentes se encontram, segundo Achille Mbembe, no ponto em que “negros e judeus são ressurgentes, pois ambos os grupos foram expostos, em graus distintos, à possibilidade concreta de desaparição”*. Entre os tantos desejos do projeto Arquivo em Movimento, está a conexão entre arquivos que, assim como o da Casa do Povo, trabalham sua memória como ferramenta do presente para criar outros modos de vida, hoje e no futuro.
Lia Vainer Schucman traz um olhar sobre a noção de alteridade e a forma pela qual a racialização se constrói em contextos diferentes. O povo judeu como grande outro na Europa, ao chegar na América, se depara com uma configuração social em que negros e indígenas são marginalizados e racializados. Como se constróem, então, as relações entre raça e racismo?
Eugênio Lima compartilhará relações entre o arquivo de sua mãe, Maurinete Lima, com o arquivo da Casa do Povo, trazendo diálogos possíveis entre autores negros e autores judeus a partir de uma perspectiva diaspórica. Eugênio também irá propor uma oficina prática que conecta estes arquivos e seus autores nos dias 14, 15 e 16 de dezembro.
* “O fardo da raça” (cordel) N-1, Achille Mbembe.
A conversa acontece no dia 08 de dezembro, às 16h, com transmissão ao vivo no Youtube e Facebook da Casa do Povo.
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Sobre os convidados
Lia Vainer Schucman é Doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo com estágio de Doutoramento no Centro de Novos Estudos Raciais pela Universidade da Califórnia. Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Autora dos livro Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na Cidade de São Paulo ( Veneta 2020) e Famílias Interraciais: tensões entre cor e amor (EDUFBA, 2018).
Eugênio Lima é Dj, Ator-Mc, Diretor de teatro, Pesquisador da cultura Afro-diaspórica, Membro Fundador do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, da Frente 3 de Fevereiro e Diretor do Coletivo Legítima Defesa.
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O projeto Arquivo em Movimento dá continuidade ao processo de retomada do arquivo da Casa do Povo, reinaugurado em 2019, após quase 40 anos fechado ao público. Nesse processo de movimentação do arquivo, os leitores e leitoras são peça central, que ativam conteúdos, tecem relações, propõem leituras e dão vida a essas coleções. Assim como um território sem vizinhos não é um bairro, uma biblioteca sem leitores é apenas um depósito.
Arquivo em movimento é uma realização da Casa do Povo em parceria com o projeto original Archival Consciousness [Mariana Lanari e Remco van Bladel]. Foi contemplado pelo ProAC Modernização de Acervos de Museus e Arquivos do Estado de São Paulo e pelo Creative Industries Fund NL.