Crédito da imagem: Yael Bartana, Shofar School.
Ilustração por Yossi Aassouline (detalhe)
Feito a partir de um chifre de carneiro, o shofar é um instrumento tocado em diferentes momentos do calendário judaico. Tornou-se um elemento icônico entre as comunidades da diáspora. A própria história do shofar está ligada à necessidade de comunicação remota: foi utilizado para se comunicar entre aldeias distantes, anunciando a lua nova e marcando o início do novo mês. A potência do seu som remete também às histórias de resistência da diáspora já que, em várias circunstâncias e durante séculos, os judeus e as judias arriscavam suas vidas para ouvir o forte apelo do shofar. Quem é capaz de soprar o shofar é considerado um dos membros mais honrados da comunidade. No entanto, até os dias de hoje, aprender a tocar o shofar está sujeito a critérios normativos, e embora as mulheres não estejam proibidas de tocá-lo, costuma ser uma honra reservada aos homens.
No seu trabalho, Yael Bartana questiona as construções identitárias e seus imaginários. A partir de um mergulho nas complexidades da diáspora judaica e dos seus rituais, ela se confronta com questões políticas e feministas. Na Escola do Shofar, Bartana cria uma plataforma online para reunir pessoas da diáspora, independentemente do seu gênero, para aprenderem coletivamente como revisitar este instrumento; um processo de aprendizagem que se torna pretexto para compartilhar histórias e redefinir o que representa hoje a identidade e seus limites. Durante um mês, diversas pessoas irão simultaneamente tocar este instrumento em uma chamada coletiva.
A Escola do Shofar acontece paralelamente a uma ação desenvolvida por Bartana em Baden-Baden, na qual uma mulher tocará o shofar a partir de um helicóptero sobrevoando a cidade.
CHAMADA ABERTA: Escola do Shofar
Inscrições até 18 de setembro de 2020
A Escola do Shofar reúne um grupo de 12 participantes. Os participantes se encontram semanalmente, às segundas-feiras de outubro, em horário a definir. O projeto convida os participantes a interpretar e refletir coletivamente sobre as formas como o shofar pode ser reimaginado como uma ferramenta. As reuniões acontecerão em uma plataforma de vídeo-chamada e poderão ser gravadas como material para a artista. Todas as atividades são gratuitas. A Escola do Shofar está aberta para quem se identifica com a diáspora judaica ou tem um interesse/ligação com ela.
As inscrições estão abertas até 18 de setembro. As participantes devem enviar uma breve carta de motivação (máximo de 400 palavras), que exponha o seu interesse no projeto. A seleção é feita pela artista, garantindo a composição heterogênea do grupo. A resposta será divulgada no dia 20 de setembro. Para se candidatar, envie um e-mail para freeschool@kfda.be com o assunto ‘The Diasporic Schools’ anexando a carta de motivação em em inglês ou português.
SOBRE A ARTISTA
Yael Bartana é uma artista visual nascida em Israel em 1970. Os seus filmes, instalações e fotografias exploram as construções identitárias através da imaginação política, revisitando cerimónias e rituais públicos. Bartana cria “pré-encenações” que tensionam a nossa realidade sugerindo presentes alternativos e possíveis futuros, justapondo a vida real e a ficção, e confrontando o seu público com as suas responsabilidades pessoais e coletivas.
Bartana representou a Polônia na 54ª Exposição Internacional de Arte em Veneza (2011) com a trilogia And Europe Will Be Stunned. Em seguida, trabalhou em projetos de grande porte, tais como Inferno (2013), True Finn (2014) e Tashlikh (cast off, 2017). Nos últimos anos, Bartana tem expandido a sua prática artística experimentando várias formatos. O seu último trabalho é o projeto em andamento What If Women Ruled the World (2016-) que combina atrizes e ativistas, criando um fórum para a ação enquanto explora alternativas possíveis a um mundo dominado por homens e sua percepção tradicional do poder. O Undertaker (2019) e Two Minutes to Midnight (2020) são desdobramentos dessa pesquisa.
SOBRE O PROJETO
The Diasporic Schools [As Escolas Diaspóricas] e o Kunstenfestivaldesarts
Desde 2019, a Free School de Kunstenfestivaldesarts é um projeto dedicado à partilha de práticas e experiências artísticas para formas de conhecimento. Ao reunir diferentes formatos, visa a criação de uma escola temporária, aberta e acessível. A crise sanitária gerada pela pandemia forçou muitas pessoas, em contextos pedagógicos ou artísticos, a trocar informações à distância. Longe de ser uma novidade, a transmissão à distância sempre existiu para as comunidades da diáspora, onde arquipélagos de identidades foram historicamente – e ainda hoje são – mantidos vivos pela partilha – uma carta por mês ou uma fita-cassete por ano; uma chamada telefónica por semana ou uma vídeo-mensagem por dia.
Com The Diasporic Schools [As Escolas Diaspóricas], Kunstenfestivaldesarts comissiona e apresenta seis novos projetos artísticos, de artistas que refletem tanto sobre o patrimônio histórico quanto sobre o tempo presente. Cada artista desenvolve um projecto baseado em novas formas de circulação do conhecimento em contextos diaspóricos onde a transmissão é vista como instrumento político e de formação: um videoclube online para partilhar filmes de momentos familiares com a diáspora palestina; uma escola para reescrever coletivamente a história do Ruanda com fontes poéticas; uma plataforma para que cubanos, na ilha e na diáspora, tenham conversas políticas.
Cada projeto artístico da The Diasporic Schools [As Escolas Diaspóricas] funciona como uma série de aulas que criam, através de chamadas abertas, grupos de participantes relacionados com as questões colocadas, e sediadas em diversas partes do mundo, incluindo Bruxelas. Essas escolas diaspóricas geram também um programa público online e acessível, com os artistas envolvidos. Em tempo de pandemia, esse projetos reforçam laços existentes e a possibilidade de aprender na diáspora e a partir dela, e refletir sobre a história, política e o futuro das conversas distantes.
Saiba mais aqui.
Escola do Shofar é um projeto de Yael Bartana comissionado pelo Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas, Bélgica) em parceria com a Casa do Povo.