Casa do Povo e Diaspora Alliance realizam Memórias em disputa: lutas na diáspora, alianças e cumplicidades, um seminário internacional que busca repensar os usos da memória, desafiar políticas do medo e apontar para as formas de luta contra o racismo, o antissemitismo e o etnonacionalismo.
Em tempos de dor e incerteza, articulações e solidariedades transnacionais para a elaboração de estratégias coletivas se tornam fundamentais. Observamos como traumas recentes têm sido instrumentalizados para justificar ações violentas e como novas formas de nacionalismos têm surgido embasadas em construções identitárias imaginárias. Na contramão, é preciso retomar nossas memórias, nas suas diversidades, para desafiar as políticas pautadas pelo medo, desenhar e fundamentar outras alianças nas diásporas. O encontro acontece em meio às devastações no Oriente Médio, situando as disputas linguísticas e políticas sobre o significado do antissemitismo, que têm sido instrumentalizadas pela extrema-direita de diversas formas na última década, enfraquecendo assim as possibilidades de articulação e atuação no campo progressista.
Convidamos estudiosos e ativistas da Alemanha, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Israel e Palestina para estarem conosco ao longo desses três dias em um evento presencial na Casa do Povo.
Entre os convidados confirmados estão Ben Ratskoff, Emily Dische-Becker, Emmanuel Kahan, Eyal Weizman, Fadi Quran, Gary Younge, Lia Vainer Schucman, Michel Gherman, Nacho Rullansky, Santiago Slabodsky, Sonali Thakker. Confira a programação completa no final da página.
O encontro acontece nos dias 5 a 7 de dezembro. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas antecipadamente através deste link.
Seminário internacional
Memórias em disputa: lutas na diáspora, alianças e cumplicidades
5 a 7 de dezembro, 2024
Encontro presencial da Casa do Povo, em português e inglês
Tradução simultânea disponível no evento
Inscrições aqui
Gratuito
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PROGRAMAÇÃO
Quinta-feira, 5 de dezembro
16h30
Visita ao Memorial da Resistência
Com Márcio Seligmann-Silva.
Inscrições prévias necessárias pelo link aqui. Sujeito a lotação. Limitado a 40 pessoas. Ponto de encontro: Memorial da Resistência, no Largo General Osório, 66 – Santa Ifigênia, São Paulo
19h30
Abertura com Gary Younge
Em conversa com Benjamin Seroussi e Emily Dische-Becker
Sexta-feira, 6 de dezembro
10h-11h30
Invertendo o jogo: o legado da esquerda judaica nas políticas de memória
Com Emmanuel Kahan, Estelle Tarica e Santiago Slabodsky
Moderação: Benjamin Seroussi
Nas últimas décadas, acadêmicos e ativistas têm estudado com atenção as políticas de memória judaica, mas quase sempre focando nos usos e abusos da memória do Holocausto. É raro colocá-las em diálogo com outras memórias judaicas, em particular com as das lutas contra as ditaduras e o fascismo na América Latina. Neste contexto, a intersecção específica entre as ideologias políticas da esquerda e as comunidades judaicas – tanto do ponto de vista histórico como na imaginação antissemita – tem significados e funções familiares, embora diferentes.
Este painel pretende mudar essa perspectiva, partindo das perguntas a seguir: Qual papel a luta da esquerda judaica contra as ditaduras e o fascismo desempenha na memória judaica coletiva contemporânea? Como a intersecção entre ideologias de esquerda, de um lado, e identidades judaicas, de outro, foi mobilizada ou apagada ao longo do tempo, e por quê? Como explicar uma certa amnésia histórica em torno desta intersecção? Houve apagamento similar de memórias coletivas de outros grupos? Quais são as limitações ao invocar a identidade judaica para analisar as políticas de esquerda? O que o legado das lutas coletivas e individuais da esquerda judaica (ou de judeus de esquerda) pode nos proporcionar hoje, além de fornecer uma contra-narrativa à atual tendência direitista nas políticas judaicas?
13h30-15h
Brasil, país de um futuro (imaginário): entre o autoritarismo místico e a democracia racial
Com Henrique Vieira, Michel Gherman e Nicolas Panotto
Moderação: Emily Dische-Becker
As reconfigurações do judaísmo, da negritude e da branquitude resultaram em dois imaginários políticos concorrentes. De um lado, a promessa pós-racial do Brasil como país do futuro que transcenderia a história constitutiva da escravidão e do genocídio indígena. Do outro lado, o bolsonarismo e os seus aliados que mobilizam um Israel imaginário como figura substituta das fantasias nacionais e religiosas de poder militar e soberania autoritária.
Como estes imaginários concorrentes convergem ou divergem com o modelo redentor da nova direita europeia, de uma civilização judaico-cristã excludente e de sua reação contra as perspectivas decoloniais? Qual é a função das projeções míticas cristãs sobre Israel em relação à política global de direita? Como as visões políticas da esquerda judaica e dos movimentos negros brasileiros podem criar rupturas com esses imaginários políticos, desenhando um novo modelo de ação política?
15h15-17h15
Comparação, empatia e solidariedade: potenciais e armadilhas
Com Ben Ratskoff, Lia Vainer Schucman, Luciana Brito, Monica Grin e Sonali Thakkar
Moderação: Gary Younge
As comparações entre histórias e experiências de grupos racializados podem ser potentes quando vão além das analogias superficiais, debruçando-se em suas singularidades estruturais, históricas e culturais. Ao mesmo tempo, a empatia e a identificação podem levar à simplificação excessiva, ou apagar assimetrias e hierarquias. Por fim, as narrativas e os modelos de solidariedade de certos contextos (por exemplo, a “aliança negro-judaica” nos EUA) podem ativar ou limitar solidariedades em outros contextos, a depender se, e como, sua aplicação leva em conta histórias, lutas e condições locais.
Nos perguntamos então quais abordagens de comparação permitem uma compreensão profunda, promovendo solidariedade, sem nivelar diferenças ou impor hierarquias? Quais são os limites da analogia, da empatia e da identificação para escutas e compreensões sutis? Quais narrativas e modelos de comparação e solidariedade podem surgir daqui? Como elas poderão desafiar outras formas de enquadrar o mundo?
17h30-18h15
Shabat shalom! Os rituais como forma política
Com Alexandre Leone e Adriana de Nanã
Introdução de Shoshana Brown
18h30-20h
Além das políticas do medo e do encastelamento judaico
Um conversa entre Audrey Sasson e Fadi Quran
Muitas vezes, parece que temos apenas duas opções: o status quo do nacionalismo excludente, ou algo diferente. Precisamos pensar em qual é esta alternativa, e os trabalhos políticos de Fadi (Avaaz) e Audrey (JFREJ) oferecem uma visão poderosa de como ela poderia ser.
Sábado, 7 de dezembro
10h-11h45
Conectando os pontos da direita transnacional: Europa, EUA e Oriente Médio
Com Eyal Weizman, Guilherme Casarões, Nacho Rullansky e Ram V
Moderação: Alex Han
11h45-12h
Considerações (quase) finais
Com Benjamin Seroussi e Emily Dische-Becker
12h-13h30
Almoço coletivo
13h30-15h
[RODA] Diversidade em lutas: alianças contra as desigualdades
Atividade fechada para grupos convidados.
Nas últimas décadas, assistimos ao crescimento da extrema-direita no Brasil e no mundo. A esquerda parece ter dificuldades em se apresentar como opção diante das mudanças radicais no campo do trabalho, na organização social, na cultura e nas subjetividades. Ao mesmo tempo, surgiram novos movimentos sociais que enfrentam desigualdades antes deixadas de lado pelas instituições da esquerda, historicamente pautadas por posições e estruturas de classe: as lutas antirracistas, o feminismo, as pautas indígenas, socioambientais, a transgeneridade, o acesso à terra, transporte, moradia, entre tantas outras. Para esta roda de conversa, integrantes de alguns desses movimentos discutem essas transformações, as crises que geraram e as alianças que demandam.
15h15-16h45
[RODA] Lugar de fala judaico? A Judeidade na esquerda
Mediação de Shoshana Brown
Atividade fechada para grupos convidados.
Tradução simultânea português e inglês disponível
O que significa fazer política enquanto judeus e judias de esquerda? Já há alguns anos, movimentos progressistas em todo o mundo têm colocado as identidades de seus integrantes no centro de suas ações políticas e reflexões. Para esta roda de conversa, convidamos membros de coletivos judaicos de esquerda que surgiram nos últimos anos no Brasil, Estados Unidos e Reino Unido para compartilharem suas experiências em levantar a judeidade como significante e significado de sua ação política. Como podemos nos articular em conjunto com judeus e judias progressistas e também com outros grupos não-judaicos da esquerda ?